terça-feira, 26 de outubro de 2021

A ALQUIMIA INTERIOR DE LAO-TSE

Comentário de Wu-ming (1947-)

O Lao-tse é o livro mais traduzido no Ocidente depois da Bíblia. Segundo Arthur Waley, autor de uma das mais conceituadas versões da língua inglesa, até a presente data foram realizadas mais de duas mil versões.

Na China e no Japão, após estudar alguns paradoxos (kung-an), é impossível deixar de perceber a enorme influência que esse pequeno livro teve na formação filosófica da escola Ch’an (Zen) Budista, que no aspecto prático desenvolveu técnicas que induzem à quietude da mente. Já o Taoismo, que adotou Lao-Tse como um dos seus patronos, interpretou os capítulos místicos do Tao Te Ching, desenvolvendo a Alquimia Interior, através de técnicas de manipulação da energia vital (ch'i) para prolongar a vida, e a Alquimia Exterior, a partir da transmutação do cinábrio em mercúrio, da qual resultaram as supostas pílulas da imortalidade.

No texto aqui apresentado foram comparadas aproximadamente 30 das mais conceituadas versões do Tao Te Ching, além de inúmeros comentários sobre o texto, tanto de comentaristas chineses como ocidentais, num trabalho de pesquisa que durou em torno de 14 anos.

A Alquimia Interior, da qual tratam vários capítulos do texto do Lao-tse, é um método desenvolvido para prolongar a vida e alcançar a imortalidade. Trata-se de uma experiência transformadora que consiste em esvaziar gradualmente a mente e o coração das palavras, ações e desejos que colocam o homem comum numa trajetória existencial contrária ao Tao. O objetivo do alquimista interior não é o de aumentar seus conhecimentos (princípio confucionista), nem desenvolver as ações conscientes (wei), nem estimular os desejos (yu); justamente, o contrário, desligar-se dos conhecimentos (wu-ming), desligar-se das ações conscientes (wu-wei) e desligar-se dos desejos (wu-yu), até alcançar o estado de vazio completo (hsu) que é o principal atributo do Caminho Imutável (Ch’ang Tao) e que possibilitará a detenção do processo de esvaziamento da energia vital que exaure a vida.

A prática diária dos ensinamentos de Lao-Tse é o método através do qual se realiza o processo de purificação da mente e do coração ‑ a alquimia interior. O periódico retiro numa gruta ou caverna numa montanha também se torna necessário como forma de retornar às origens, tal como recomendavam os primeiros mestres Taoistas ‑ não foi por acaso que Lao-Tze montou num búfalo e se perdeu nas montanhas sem que nunca ninguém soubesse mais nada dele. A prática da meditação Taoista pode ser um meio de induzir, momentaneamente, á quietude da mente e do coração; porém só a prática permanente dos três princípios (wu-ming, wu-wei e wu-yu) até incorporá-los ao subconsciente possibilitará a realização natural e espontânea (tzu jan) do estado de quietude completa (hsu). momento em que poderá dar-se inicio à Alquimia Interior e ao processo de destilação do elixir da imortalidade. O método de destilação do elixir da imortalidade (Hsin Ming Fa Chueh Ming Chih ou Segredos do Cultivo da Essência da Natureza e da Vida Eterna) será o tema do próximo blog, ainda em construção.

Wu-ming
Rio de Janeiro,15 de Dezembro de 2005


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