terça-feira, 26 de outubro de 2021

AS CEM ESCOLAS FILOSÓFICAS NO SÉCULO III A.C.

 Nas biografias de Mêncio (372-289 a.C.) e de Hsun-Tzu (298-238 a.C.) registradas no Shih Chi (primeira História Geral da China), no Capítulo 74, diz:


“A partir de Tsou Yen, incluindo outros cavalheiros de Chi´Hsia em Ch’i, existiam homens como Shun-yu K’un, Shen Tao, Huan Yuan, Chieh Tzu, T’ien P’ien e Tsou Shih, cada um dos quais escreveu livros sobre a ordem e a confusão dos assuntos humanos. Shen Tao era nativo de Chao, T’ien P’ien e Chieh Tzu de Ch’i, e Huan Yuan de Chu. Todos eles estudaram a arte do Caminho (Tao) e do Poder (Te) de Huang Lao e expuseram e arranjaram suas idéias de acordo com eles.” (Durante o Período dos Estados Combatentes – 403-221 a.C. – a China estava constituída pelos seguintes estados: Chao, Ch’i, Ch’in, Ch’u, Han, Lu, Sung, T’eng, Tsou, Wei e Yen).

Na crítica às seis escolas filosóficas contidas no Capítulo 130 do Shih Chi, diz:

“A escola Taoísta instava os homens à unidade de espírito e ensinava que todas as atividades deveriam estar em harmonia com o invisível e deveriam ter total liberdade em relação à natureza das coisas. Na prática, eles aceitavam a seqüência ordenada da natureza da escola Yin e Yang, recolhiam os bons princípios dos confucionistas e dos mohistas, e combinavam os atributos da escola dos Nomes e da Lei. Em concordância com as mudanças das estações, eles respondiam ao desenvolvimento natural das coisas. Suas ações se encaixavam em qualquer circunstância. Suas idéias eram simples e fáceis de executar. Eles faziam pouco, porém suas realizações eram muitas.”

Com relação a esse documento histórico, Fung-Yu lang, na sua História da Filosofia Chinesa, Volume I, pág 171, comenta:

“Aqui fica claramente estabelecido que a escola Taoísta foi de origem posterior, pois somente desta forma lhe teria sido possível adotar os bons princípios das outras escolas. O fato de que as gerações posteriores tenham insistido em que foram as outras escolas que se originaram do Taoísmo mostra até que ponto chega a pouca atenção dada a esta pérola da crítica filosófica, escrita por Ssu Ma-Tan (morto em 110 a.C.) e incluída no Shih Chi pelo seu filho, o historiador Ssu Ma Ch’ien (145-86 a.C.).”

Esse comentário encontra-se plenamente confirmado no próprio Tao Te Ching, onde aparecem misturados conceitos e idéias de pelo menos dez escolas filosóficas do período das “Cem Escolas” (350-221 a.C.), época em que, segundo Arthur Waley, foi escrito o Clássico Taoísta. O primeiro e principal texto filosófico do Taoísmo foi claramente resultado da síntese das principais doutrinas filosóficas que apareceram durante o período das “Cem Escolas”, entre a segunda metade do século IV e primeira metade do século III a.C. Se o Lao-tse ( como se chamava o Tao Te Ching naquela época) fosse realmente anterior as “Cem Escolas” e a obra básica de onde essas doutrinas extraíram suas idéias, porque não existe uma referencia sequer ao Lao tse em nenhum dos grande livros da antiguidade. A primeira referencia ao Lao-tse aparece nos capítulos XX e XXI do Han-Fei-tze – apenas alguns capítulos são atribuídos a Han-Fei (280-233 a.C.) – que são consagrados aos comentários de fragmentos do clássico Taoísta.

No capítulo XXXIII do Chuang-tzu – certamente um capítulo apócrifo que foi incorporado ao livro muito mais tarde, já que apenas o sete primeiros capítulos são considerados de autoria de Chuang-Tse –, intitulado T’ien Hsia ou Escolas do Céu, diz:

“Quão completa era a operação do Tao nos homens da antiguidade! Ele os fez semelhantes aos seres espirituais, sutis e perfeitos, como o Céu e a Terra. Eles nutriam todas as coisas e produziam harmonia debaixo do Céu. Sua influência benéfica alcançava a todas as classes de pessoas. Eles entendiam todos os princípios fundamentais e os seguiam em suas ações; eles penetravam nas seis direções e as coisas estavam abertas para eles nos quatro quadrantes. Grande e pequeno, sutil e grosseiro – todos sentiam sua presença e operação. Sua inteligência, como pode ser observado nos seus regulamentos, foi transmitida de geração em geração nas suas velhas leis e uma boa parte ainda pode ser encontrada nos livros de História. O que dela se encontrava no Shih, no Shu, no Li e no Yo pode ser aprendido com os membros das várias cortes. O Shih descreve o que deveria ser o objetivo da mente; o Shu, o curso dos eventos; o Li, fixa as normas de conduta; o Yo, estabelece a harmonia; o I, mostra a ação do Yin e do Yang; e o Ch’um Ch’iu mostra os nomes e as tarefas designadas a esses nomes. Algumas dessas regras dos homens da antiguidade, espalhadas pelos quatro cantos debaixo do Céu e estabelecidas nos nossos Estados Centrais, podem ser, ocasionalmente, mencionadas e descritas nos escritos das diferentes escolas. Seguiu-se uma grande desordem no mundo e os sábios não mais irradiaram sua luz sobre ele. O Tao e suas características cessaram de ser consideradas como uniformes. Muitos em diferentes lugares passaram a ter uma visão parcial dele, mas acreditavam possuí-lo por inteiro. Eles podem ser comparados a orelha, o olho, o nariz, ou a boca. Cada sentido tem sua própria faculdade, porém elas não podem ser intercambiadas umas com as outras. Assim acontecia com as muitas ramificações das várias escolas. Cada uma tinha sua qualidade peculiar e sua vez, mas nenhuma abrangia ou se estendia sobre a verdade toda. O caso era o daquele sábio de qualquer canto que faz o julgamento de toda a beleza do Céu e da Terra, discrimina os princípios que subjazem em todas as coisas e tenta estimar o sucesso alcançado pelos antigos. Dificilmente tal pessoa poderá alcançar toda a beleza existente no Céu e na Terra ou avaliar corretamente os caminhos do espiritual e do inteligente; e foi assim que o Tao, que forma o “sábio interior” e o “rei exterior”, tornou-se obscuro e perdeu sua clareza, foi sufocado e perdeu seu desenvolvimento. Cada um no mundo fazia o que bem entendia e passou a ser a regra de si mesmo. Cada escola possuía seu próprio caminho e não podia chegar ao mesmo ponto das outras ou a um lugar em comum. Os estudantes dessa época posterior infelizmente não conheceram a indivisível pureza do Céu e da Terra e o grande plano da verdade possuída pelos antigos. O sistema do Tao se pulverizou em fragmentos debaixo do Céu”.

A seguir, são relacionados os princípios de algumas das principais escolas filosóficas do período das Cem Escolas.

Kung Fu Tse* (551-479 a.C.)
Conhece-se muito mais da vida de Confúcio do que da vida de qualquer outro filósofo da antiguidade, basicamente devido ao longo capítulo (47) dedicado a sua vida no Shih Chi (Primeira História Geral da China):

“Kung Fu-Tse nasceu em 551 a.C. no estado de Lu, em algum lugar perto da atual cidade de Chüfu em Shantung. Seus ancestrais eram da Casa Real de Sung ( um estado ao sudoeste de Lu, na atual Honan), mas seu bisavô se mudou para Lu, onde a família empobreceu. Assim Confúcio, como muitos dos filósofos e políticos itinerantes dos séculos seguintes, vieram de uma classe social que, embora de origem nobre, tiveram uma vida dura. O nome Confúcio é uma latinização de Kung Fu-Tse, que significa Mestre Kung. Confúcio perdeu seu pai, que foi um militar de considerável poder no estado de Lu, quando tinha apenas três anos de idade e foi criado pela sua mãe. Aos 19 anos se casou, e por essa época iniciou sua carreira no serviço público como administrador de depósitos de grãos e depois encarregado de administrar as terras do governo. Após passar por várias experiências, inclusive um longo estágio de sete anos no estado vizinho de Ch’i, ele alcançou sua maior posição em 501 a.C. se tornando Primeiro Ministro de Lu. Foi tão grande seu sucesso neste posto, que o estado rival de Ch’i, de acordo com o Shih Chi, temendo sua crescente influência, enviou de presente para o Rei de Lu um grupo de dançarinas e cantoras que fizeram com que o soberano descuidasse completamente os assuntos do estado. Desapontado, Confúcio renunciou a sua posição e, acompanhado por alguns dos seus muitos discípulos, começou em 497 a.C. uma peregrinação por outros estados que iria se prolongar por treze anos. Durante esse período percorreu vários estados da China, ficando ora aqui, ora ali, e passando por muitas dificuldades e perigos. Finalmente, ele voltou para seu estado natal onde viveu os últimos três anos de sua vida envolvido em estudos literários e instruindo seus discípulos. Ele morreu em 479 a.C. e foi sepultado no distrito de Chüfu, onde seu mausoléu permanece até hoje”.

Com base nos relatos do Lun Yu (Os Analectos) , livro muito provavelmente escrito pelos seus discípulos sobre citações do grande Mestre, podemos relacionar os principais princípios da doutrina de Confúcio:
1. “Eu não sou alguém que tenha uma sabedoria inata, mas alguém que, amante da Antigüidade, é diligente em procurar estudar sobre ela”.
2. “Numa vila de dez casas, com certeza haverá homens tão conscientes e sinceros quanto eu, mas ninguém tão ávido de aprender como eu”.
3. “Como o Rei Wen (Fundador da Dinastia Chou) está morto, não é verdade que sua cultura permanece comigo? Se o Céu fosse destruir essa cultura, um pobre mortal com eu não poderia ter se tornado o porta-voz dela. Já que o Céu ainda não destruiu essa cultura, o que poderiam os homens de K’uang me fazer de mal?”
4. “Sobre milagres, atos heróicos, atos ilegais ou o sobrenatural, não falo”
5. “Tze Lu disse: ‘O príncipe de Wei está esperando pelo Senhor, para assumir o controle de sua administração. Qual será a sua primeira medida, Senhor?’ O Mestre respondeu: ‘A primeira coisa a ser feita é a retificação dos nomes (cheng ming)’”.
6. “Que o governante seja um governante, que o ministro seja um ministro, que o pai seja um pai e que o filho seja um filho”.
7. “Quando um homem não é humanitário (jen), de que servem as regras de conduta (li)? Quando um homem não é humanitário (jen) de que serve sua música?”
8. “O Homem Superior (chün tze) toma a retidão (i) como sua base; e a pratica junto com as regras de boa conduta (li); a complementa com a modéstia e a completa com a sinceridade: esse é o Homem Superior”.
9. “O Duque de She comentou com Confúcio: ‘No meu estado há um homem tão correto (chih) que quando seu pai roubou uma ovelha, ele o denunciou’. Confúcio respondeu: ‘As pessoas corretas (shih) são diferentes no meu estado, pois o pai protege o filho e o filho protege o pai’”.
10. “O de espírito firme, o de caráter resoluto, e o de discurso sincero, não está longe do humanitário (jen)".
11. “Quando Yen Yüan perguntou sobre o significado de humanitário (jen), o Mestre respondeu: ‘Humanitário (jen) é a negação do ego e a resposta para o que é correto e apropriado (li). Negue a você mesmo por um dia e atenda o que é correto e apropriado, e todo mundo estará de acordo com o seu humanitarismo (jen)’. ‘Posso suplicar pelas qualidades principais?’ perguntou Yen Yüan. O Mestre respondeu: ‘se não é correto e apropriado (li), não olhe; se não é correto e apropriado, não escute; se não é correto e apropriado, não fale; se não é correto e apropriado, não se mexa’”
12. “Se não é inteligente, como pode ser um homem humanitário(jen)".
13. “O Homem Superior (chün tse) volta sua atenção ao que é radical. Isto posto, todos os cursos se desenvolvem naturalmente. Piedade filial (hsiao) e submissão fraterna! - não são eles a raiz de todas ações humanitárias (jen)?”.
14. “Meng I perguntou o que seria piedade filial (hsiao). O Mestre disse: É não ser desobediente’”.
15. Meng Wu perguntou o que seria piedade filial (hsiao). O Mestre disse: ‘Os pais ficarem com medo de que seus filhos adoeçam’”.
16. Tse-yu perguntou sobre a piedade filial (hsiao). O Mestre disse: ‘piedade filial hoje em dia significa sustentar os pais’”.
*Fonte: Confucian Analects – James Legge – Dover Publications, 1971.


A Arte da Mente e do Coração e a Arte de Nutrir o Sopro Vital* (Séculos IV e III a.C.)
Segundo Arthur Waley – autor de uma das mais respeitadas traduções do Tao Te Ching com comentários – nos séculos VI e V a.C., se desenvolveu no estado de Ch’i uma escola que passou a cultivar a “arte da mente e do coração” (hsin shu) – a redução e, se possível, a total extinção dos desejos e das emoções – com o objetivo de “limpar o templo para receber o espírito”. Essa “arte da mente e do coração” estava estreitamente ligada a “arte de nutrir o espírito da vida” (yang shen). O aparecimento de todos aqueles atributos que contaminam o “templo do espírito” – o medo, o ódio, a cobiça, a inveja, etc – é conseqüência da contração do espírito da vida. O princípio fundamental da “arte de nutrir a vida” era o desenvolvimento de técnicas de respiração e de posturas de meditação que ajudassem no processo de limpeza do templo. Entretanto, muitos dos adeptos do “quietismo”, como chamada essa escola filosófica, consideravam essas técnicas um método inadequado para alcançar um fim espiritual.

Com base nos relatos de Kuan-tze, podem estabelecer-se os mais importantes princípios da doutrina da arte do coração e da nutrição do sopro vital, artes desenvolvidas no Estado de Ch’i:
1. Em primeiro lugar, cultivar a arte da mente e do coração (hsin-chu).
2. A mente e o coração são os governantes do corpo e os membros, seus ministros.
3. A arte da mente e do coração depende de nutrir o sopro de vida (ch’i).
4. O que perturba a mente e o coração é a contração do sopro de vida.
5. Purificar a mente e o coração pela circulação e acumulação do sopro de vida (ch’i).
6. Acumular no interior uma grande fonte de energia que jamais se esgote e que dê força e firmeza a cada articulação.
7. Permanecer sereno e imóvel, como um monarca no seu trono.
8. Permanecer em paz e em silêncio para que a mente e o coração não sejam perturbados.
9. Sem se impacientar nem se perturbar, o Acordo é alcançado sem ser procurado.
*Fonte: The Way and Its Power. The Tao Te Ching and Its Place in Chinese Thought – Arthur Waley - George Allen & Unwin (Publishers) Ltd., London, 1977.

Yang Chu*(395-335 a.C.)
O capítulo 50 do Han-fei-tse faz uma descrição bastante detalhada de alguns aspectos da filosofia de Yang Chu:

“Eis aqui um homem! Sua política é não entrar numa cidade que está em perigo, nem permanecer no exército, e para beneficiar o mundo ele não arrancaria um único fio de cabelo. Os Reis invariavelmente o seguem e lhe prestam honras. Eles dão valor aos seus conhecimentos e exaltam a sua conduta, porque ele é um sábio que tem pouco aprecio pelas coisas fúteis e considera a vida algo muito importante.“

Com base em trechos de Mencio, Han fei-tse, Huai nan-tse, e Lu-Shih Ch’un Ch’iu, podemos reconstituir os principais princípios da doutrina de Yang Chu:
1. Viver em perfeição. (Ch’uan Sheng).
2. Preservar o que é genuíno.
3. Evitar ser envolvido pelas coisas exteriores.
4. Dar pouco valor às coisas e considerar a vida como algo importante.
5. Completa preservação da natureza humana.
6. Alcançar a completa preservação da natureza humana significa aceitar os sons, as cores e os sabores que são benéficos a essa natureza, e evitar os que a agridem.
7. Preocupar-se demais com a vida prejudica a vida.
8. O segredo da vida longa é não obstruir a vida.
9. A obstrução a vida provém dos desejos.
10. Os desejos têm suas tendências naturais.
11. As tendências naturais têm suas restrições.
12. O mestre exercita essas restrições para controlar os desejos.
13. Ele determina cedo os princípios básicos.
14. Determinando cedo os princípios básicos começa a se poupar cedo.
15. Poupando se cedo não esgota as forças vitais.
16. A chamada exaltação à vida consiste em viver em perfeição.
17. Viver em perfeição significa que os seis desejos alcançaram a perfeita harmonia.
18. Vida incompleta significa que os seis desejos estão em desarmonia.
19. A vida incompleta é pior que a morte.
20. O mestre deve, em primeiro lugar, harmonizar seus desejos. 
21. “Não arrancaria nem um fio de cabelo por nada neste mundo”.
*Fonte: History of Chinese Philosophy, Volume I - Fung Yu-lan - Princeton University Press, Princeton, 1952.

Kao Tzu* (380-280 a.C.?)
Com base no capítulo VI do Mêncio, podemos reconstruir os principais pontos da doutrina de Kao Tzu:

1. Humanitarismo (jen) é algo interno e não externo; retidão (i) é algo externo e não interno.
2. O que não é alcançado com as palavras não deve ser procurado na mente.
3. O que não é conseguido na mente não deve ser procurado no sopro vital (ch’i).
4. A natureza humana (hsing) é como a madeira do salgueiro e a moralidade (i) como uma taça ou um vaso: transformar a natureza humana em humanitarismo (jen) ou em moralidade (i) é como transformar a madeira do salgueiro em taças ou vasos.
5. A própria natureza é como a água corrente: abre uma passagem para o leste e a água fluirá pára o leste; abre uma passagem para o oeste e a água fluirá para o oeste.
6. A natureza humana não faz distinção entre leste e oeste.
7. A natureza não e boa nem má.
8. O que se é ao nascer: isso é a própria natureza.
9. Preocupação com comida e sexo: isso é a própria natureza.
*Fonte: History of Chinese Philosophy, Volume I - Fung Yu-lan - Princeton University Press, Princeton, 1952.

P’eng Meng, T’ien P’ien e Shen Tao* (350-250 a.C.?)
“Ser imparcial e indiviso; calmo e complacente, sem nenhuma predileção egoísta; decisivo, mas sem predeterminação; seguindo a trilha dos outros, sem nenhuma dupla intenção; evitando se tumultuar por pensamentos ansiosos; evitando planejar se valendo da sabedoria; evitando escolher entre as partes, mas acompanhando todas elas – todos esses princípios pertenciam aos taoístas da Antigüidade e eram apreciados por P’eng Meng, T’ien P’ien e Shen Tao. Quando eles ouviram acerca desses caminhos (Tao), ficaram encantdos com eles” (The Writings of Chuang Tzu, Chapter XXXIII. The Texts of Taoism, Volume II, James Legge) .

Com base no capítulo XXXIII do Chuang-tse, podemos estabelecer os principais princípios da doutrina de P’eng Meng, T’ien P’ien e Shen Tao:
1. Todas as coisas são iguais.
2. O Céu pode cobrir as coisas, mas não consegue sustentá-las; a Terra pode sustentar as coisas, mas não consegue cobri-las; o grande Tao compreende-as, mas não consegue distinguí-las.
3. Seleção significa exclusão, instrução significa omissão: o Tao não exclui nem omite nada.
4. Livrar-se do conhecimento.
5. Sabedoria é não saber.
6. Abandonar o ego.
7. Aceitar o inevitável.
8. Atuando apenas quando não há outra alternativa.
9. Ser indiferente às coisas.
10. Mudando de acordo com as circunstâncias.
11. Inconstante e escorregadio.
12. Indeterminar o certo e o errado.
13. Somente se preocupando com evitar os problemas.
14. Não aprendendo nada nem com o conhecimento nem com o pensamento.
15. Ignorando o passado e o futuro.
16. Indo para onde se é empurrado e seguindo para onde se é levado.
17. Em ação ou em repouso, livre de erros e nunca ofendendo os outros.
18. Criaturas sem conhecimentos estão livres da auto-afirmação e das rédeas do conhecimento.
19. Em repouso ou em movimento, nunca se afastando dos princípios da natureza e por esta razão nunca elogiado.
20. Os que entram em harmonia com a natureza sobrevivem por longo tempo.
21. Os mestres são inúteis.
22. “Nem um torrão de terra se afasta do Tao”.
*Fonte: The Writings of Chuang Tzu, Chapter XXXIII. The Texts of Taoism, Volume II, James Legge - Motilal Banarsidass, Delli, 1977.

Sung K’en e Yin Wen* (350-250 a.C?)
“Evitar ser envolvido pelos costumes de moda; evitar qualquer tipo de enfeite em si próprio; sem se descuidar na conduta com os outros; não ficar teimosamente contra a multidão; desejar a paz e o repouso no mundo da forma a preservar a vida dos homens; e parar de atuar quando se haja obtido o suficiente para alimentar a si mesmo e aos outros, mostrando que esse era o objetivo da mente; - tal plano pertencia ao sistema do Tao da antiguidade, e era apreciado por Sung K’eng e Yin Wen. Quando eles ouviram acerca desses caminhos (Tao) ficaram encantados com eles. (The Writings of Chuang Tzu, Chapter XXXIII. The Texts of Taoism, Volume II, James Legge) .

Com base no capítulo XXXIII do Chuang-tse, podemos estabelecer os principais princípios da doutrina de Sung K’eng e Yin Wen:
1. No relacionamento com os outros, qualquer que sejam as diferenças, começar por ser indulgente.
2. Chamar à Tolerância da Mente de Ação da Mente.
3. Alcançar a harmonia através do calor e afeto.
4. Unir todos os homens nos quatro mares.
5. Suportar o insulto sem considerá-lo uma desgraça para evitar que as pessoas briguem.
6. Se opor a agressão e propor o desarmamento para salvar a sua geração da guerra.
7. Procurar apenas o suficiente para alimentar a si próprio e aos outros.
8. As paixões dos homens tem poucos desejos.
*Fonte: The Writings of Chuang Tzu, Chapter XXXIII. The Texts of Taoism, Volume II, James Legge - Motilal Banarsidass, Delli, 1977.

Mo Tsu*(479-381 a.C.)
“Não deixar nenhum exemplo de extravagância para as gerações futuras; não desperdiçar nada; não fazer nenhuma ostentação nos cerimoniais de costumes; manter os gastos limitados à norma estrita e exata, de forma de estar prevenido em caso de emergência; - estas regras faziam parte do sistema do Tao de antigamente e eram apreciadas por Mo-Tze e seu discípulo Ch’in Hua-li. Quando ouviram sobre esses caminhos (Tao) ficaram encantados, mas abusaram deles e os seguiram muito ao pé da letra”. Mo escreveu um tratado “Contra a Música”, e aconselhava seu discípulos a seguir as orientações de outro livro seu chamado “Economia e Despesa”. Não havia lugar para a música na sua vida e nem luto quando morria alguém da família. Ele não concordava com os reis da antiguidade e atacava os rituais e a música dos antigos. Nos rituais de luto da antiguidade, o homem de bem e o homem do mal tinham cerimônias diferentes, o nobre e o plebeu diferentes graus. O caixão do Filho do Céu (o Rei) tinha sete camadas de madeira,; o caixão do nobre feudal, cinco camadas; o caixão do oficial superior, três camadas; e o caixão do oficial subalterno , duas camadas. Mais agora, com Mo-Tse não haveria nenhuma música durante toda a vida nem cerimoniais na hora da morte. Assim como todo mundo, ele teria um caixão de três polegadas de grossura e sem nenhum enfeite exterior. O ensinamento dessas lições não podia ser considerado como uma prova de amor aos homens; suas práticas certamente mostram que ele não tem nenhum amor próprio; mais isto não foi suficiente para derrubar esses pontos de vista. Desta forma, os homens irão cantar, e ele condena o canto; os homens irão se lamentar, e ele condena os lamentos; os homens manifestarão sua alegria; e ele condena a alegria: será que isso está de acordo com a natureza humana? (The Writings of Chuang Tzu, Chapter XXXIII. The Texts of Taoism, Volume II, James Legge) .

Com base no capítulo XXXIII do Chuang-tse, podemos estabelecer os principais princípios da doutrina de Mo Ti:
1. Não cultivar a música.
2. Não vestir luto.
3. Praticar o amor universal.
4. Participação da comunidade em todos os benefícios.
5. Política de não-violencia.
6. Sem ódio e sem rancor.
7. Praticar o estudo e esforçar-se para não parecer diferente dos outros.
*Fonte:The Writings of Chuang Tzu, Chapter XXXIII. The Texts of Taoism, Volume II, James Legge - Motilal Banarsidass, Delli, 1977.

Tsou Yen* **( 305-240 a.C.)
No capíulo 28 do Shih Chih diz:
“Foi na época do rei Wei (357-320 a.C.) e do rei Hsuan (319-301 a.C.) de Ch’i que os seguidores da escola de Tsou argumetaram e escreveram sobre as revoluções cíclicas dos Cinco Elementos (wu hsing). Quando o rei de Ch’in se transformou no Imperador Shih-Huang-Ti (221 a.C), os nativos de Ch’i lhe expuseram essas teorias e Shih –Huang-Ti as colocou em prática. Assim, Sung Wu-chi, Cheng Pó-chiao, Ch’ung Shang e Hsien-men Tzu-Kao, eram todos nativos de Yen. Eles praticaram os métodos de alcançar a mágica imortalidade, de tal forma que seus corpos poderiam escapar, se dissolver e se transformar, contando para isso com seus serviços prestados aos seres divinos. Tsou Yen, com seu (agora perdido) Chu Yun, que tratava do Yin e do Yang, era famoso entre os senhores feudais. E os mágicos (fang shih) que moravam ao longo do litoral de Ch’i e de Yen, transmitiam suas artes, mas eram incapazes de compreendê-las. Logo depois apareceram incontáveis pessoas capazes de fazer prodígios extraordinários, bajulações mentirosas, que sabiam tirar vantagens das pessoas por meios fraudulentos”.

Com base em trechos do capítulo 74 do Shih Chi, do capítulo XIII do Lu-Shih Ch’un Ch’iu, e do Hung Fan do Shu Ching (Livro de História), podemos reconstruir os principais pontos da doutrina de Tsou Yen:
1. O Yin e o Yang são os grandes princípios do Céu e da Terra.
2. Os fenômenos do Universo são o resultado da interação dessas duas forças.
3. Deve-se estudar profundamente o ciclo de aumento e diminuição do Yin e do Yang.
4. Os cinco elementos ou estados de mutação (wu-hsing) são cinco forças naturais, cada uma das quais tem seu período de ascensão e queda.
5. Cada energia domina a precedente e é dominada pela energia seguinte num ciclo sem fim.
6. As cinco energias (terra, madeira, metal, fogo e água) controlam tanto os fenômenos naturais quanto os fenômenos humanos, pois têm uma relação de interdependência.
7. As cinco energias estão correlacionadas com as cinco funções, os cinco atributos, os cinco climas, as cinco cores, os cinco sons e os cinco sabores.
8. O excesso ou falta (desarmonia) de um dos elementos provoca o desastre.
9. O Céu deu a Yu (o fundador da dinastia Hsia, 2183- 1752 a.C.?) a Grande Norma das Nove Categorias: a) Os Cinco Elementos, b) A prática reverente das cinco funções; c) A prática intensa das oito regras de governo, d) O uso harmônico das cinco regras do tempo, e) O estabelecimento dos padrões reais, f) A pratica ordenada das três virtudes, g) A prática inteligente da adivinhação, h) O seguimento cuidadoso das várias indicações (agouros dados pela consulta à carapaça da tartaruga e ao I Ching), e, i) Recompensando as cinco formas do bem e castigando as seis formas do mal.
* A doutina de Tsou Yen é derivada da cosmogonia do I Ching
** Fonte: History of Chinese Philosophy, Volume I - Fung Yu-lan - Princeton University Press, Princeton, 1952.

Hui Shih* (350-280 a.C.)
“Hui Shih tinha idéias muito engenhosas. Seus escrito podiam encher cinco carruagens, mas suas doutrinas estavam erradas e eram contraditórias e suas palavras completamente fora de propósito” (The Writings of Chuang Tzu, Chapter XXXIII. The Texts of Taoism, Volume II, James Legge).

Os escritos dos Dialéticos (hsing min chia) – exceção do parcialmente preservado Kung-sun Lung- tse – foram todos perdidos. O pouco que sabemos hoje sobre a doutrina de Hui Shih e os outros Dialéticos é basicamente derivado dos paradoxos registrados no Capítulo XXXIII do Chuang-tse:
1. O maior não tem nada além dele é chamado a Grande Unidade (ta-i); o menor não tem nada dentro dele e é chamado a Pequena Unidade ( hsiao-i).
2. Aquilo que não tem espessura não pode aumentar sua espessura e no entanto pode alcançar mas de mil li.
3. O Céu está tão baixo quanto o chão e as montanhas na altura dos pântanos.
4. O sol do meio-dia é o sol poente; a criatura recém nascida está morrendo.
5. A grande similaridade difere da pequena similaridade.
6. O Sul não tem limite e tem limite.
7. Eu vou hoje para o estado de Yueh e cheguei ontem.
8. Anéis ligados podem ser separados
9. Conheço o centro do mundo; está ao norte de Yen a ao sul de Yueh.
10. Ama todas as coisas por igual; o Universo é um só.
*Fonte: The Writings of Chuang Tzu, Chapter XXXIII. The Texts of Taoism, Volume II, James Legge - Motilal Banarsidass, Delli, 1977.

Kuan Yin* (350-250 a.C.?)
“Tomar a origem da qual as coisas nascem como sua parte essencial e as coisas como sua vulgar corporificação; ver deficiência na acumulação e na solidão da própria individualidade conviver com o espiritual e o intelectual; esse cursos pertençam ao Tao da antiguidade e eram, apreciados por Lao-Tan** e Kuan Yin***. Quando eles ouviram sobre esses caminhos (Tao) eles ficaram encantados com eles”. (The Writings of Chuang Tzu, Chapter XXXIII. The Texts of Taoism, Volume II, James Legge).

Com base no Capítulo XXXIII do Chuang-tse, a doutrina de Lao Tan, e Kuan Yin pode ser resumida nos seguintes princípios:
1. Eles construíram seu sistema fundamentados no eterno não-ser (wu) e no eterno ser (yu) e o centraram em trono da idéia do Grande Uno (Tai i).
2. Para aquele que não vive fechado dentro de si mesmo as formas das coisas se mostram como elas soa.
3. Seus movimentos são como a água.
4. Sua imobilidade como um espelho
5. Sua resposta como um eco
6. Sua tenuidade faz com que ele desvaneça.
7. Quieto como o lago
8. Harmonioso na associação com os outros.
9. Aquele que ganha, perde.
10. Não precede ninguém, sempre segue os outros.
11. Conhece o masculino, mas preserva o feminino – transformando-se num canal por onde todas as correntes fluem.
12. Conhece sua branca pureza, mas aceita sua desgraça – transformando-se no vale do mundo.
13. Os Homens querem ser os primeiro, somente ele prefere ser o último.
14. Aceita a rejeição do mundo
15. Os homens procuram a realidade (shih), somente ele prefere o vazio (hsu).
16. Ele não guarda e no entanto tem super-abundância.
17. Parece solitário, mas uma multidão fica em torno dele.
18. Nas suas coisas é calmo e vagaroso e não gasta nada.
19. Não faz nada e ri do inteligente e do engenhoso.
20. Os homens procuram a felicidade, mas ele se sente completo na sua condição imperfeita.
21. “Apenas ser sem culpa”.
22. Ele considera o mais profundo como sua raiz e o que é mais limitado como sua regra.
23. “O forte será esmagado e as arestas serão aparadas”.
24. Sempre generoso e tolerante com os outros, não prejudica ninguém.
*Fonte: The Writings of Chuang Tzu, Chapter XXXIII. The Texts of Taoism, Volume II, James Legge - Motilal Banarsidass, Delli, 1977.
**Lao Tan é uma figura mitológica que no Taoísmo religioso representa um dos imortais da Trindade. Era chamado de “O Vaso Perfeito da Antiguidade”, discípulo de Huang Ti, o Imperador Amarelo, fundador do Taoísmo. Segundo Fung-yu Lang, na biografia de Lao-Tse, Ssu-Ma Chi’en confundiu a figura mitológica de Lao Tan com Li Erh, um funcionário do estado de Ch’u, que viveu no Período dos Estados Combatentes (403-221 a.C.) a quem se atribui a autoria do Lao-tse (Tao te Ching).
***No Catálogo da Biblioteca Han – iniciado por Liu Hsiang (79-8 a.C) e continuado por seu filho Liu Hsin (morto em 23 d.C) – existe o registro de um trabalho de nove capítulos (p’ien) da autoria de Kuan Yin, e existe ainda um escrito muito popular na China chamado Kuan Yin-tse, mas é considerado apócrifo.

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